domingo, 4 de maio de 2008

Estudantes são agredidos ao filmar cenas que denunciam maus-tratos a animais em rodeio de Magé


A estudante de jornalismo Taiane Linhares e o cinegrafista Pedro Silva foram agredidos na noite do sábado no momento em que gravavam um flagrante de maus-tratos aos animais que participavam do 2º Rodeio de Santo Aleixo, em Magé. O autor da agressão foi o próprio dono da companhia de rodeio que prestava serviços ao evento, a “W Masters”. As imagens, gravadas em uma câmera fotográfica, mostram o exato momento em que o senhor, que não quis se identificar, tenta tomar a câmera e, aos palavrões, ameaça bater no rapaz e diz que iria quebrar o aparelho. Os jovens registraram o fato na 65ª DP de Magé.


Veja o vídeo do momento exato da agressão

Esse não é o primeiro rodeio em que flagramos abusos contra animais, dizem vítimas

Segundo os estudantes, essa não é a primeira vez em que registram cenas de maus-tratos a animais em rodeios. Em 2007 os jovens fotografaram diversas cenas de abusos nesse mesmo rodeio. Nas fotos os funcionários da companhia de rodeio espancam os touros com pauladas e chutes. Além disso, uma vara é introduzida nos ânus dos animais com o intuito de forçá-los a entrar na área em que seriam preparados para a montaria. De acordo com os estudantes, as mesmas cenas foram presenciadas no rodeio desse ano. As fotos do evento de 2007 reforçaram o processo contra a organização do rodeio que tramita na Promotoria de Tutela Coletiva do Meio Ambiente do Ministério Público em Duque de Caxias.

Outro fator ressaltado pelos estudantes é a utilização do sedém, uma corda que é amarrada na área abdominal do touro, perto do saco escrotal, e é apertada com força pelos funcionários da companhia de rodeio segundos antes de o animal ser solto na arena. O incômodo provocado pela corda obriga o animal a saltar até que consiga afrouxá-la, proporcionando assim o “espetáculo”.

De acordo com os estudantes, a atitude da organização do rodeio, além de ser uma retaliação às denúncias do ano de 2007, teve em vista suprimir o direito à liberdade de imprensa. “Não estávamos fazendo nada de errado, havia outras pessoas fotografando e a entrada na área onde ficava o curral não era proibida. Eles pretendiam nos intimidar pelo poder da violência, assim como fazem com os animais. Se o fato de nós estarmos filmando incomodou tanto a organização do evento, quer dizer que eles têm a convicção de que estavam fazendo algo errado”, ressalta a estudante de jornalismo Taiane Linhares.

Embora já tenha prestado depoimento junto ao Ministério Público, estando ciente da brutalidade cometida no ano de 2007, o organizador do rodeio, Walter Arruda, voltou a realizar tal evento. O rodeio é regulamentado por lei no estado do Rio de Janeiro, embora seja proibido em alguns municípios do país como Rio de Janeiro, São Paulo, Guarulhos, Jundiaí e Sorocaba. Porém, muitos protetores dos direitos dos animais defendem que é impossível realizar tal evento sem submeter os animais a maus-tratos, já que os animais são visivelmente dóceis e assustados, além de não se submeterem facilmente às vontades dos homens. Já a lei de crimes ambientais (lei nº 9.605, artigo 32) pune aqueles que “praticarem ato de abuso, maus-tratos, ferirem ou mutilarem animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos” com até um ano de prisão.

Os jovens que denunciaram o crime dizem ser adeptos do veganismo que, segundo eles, seria um estilo de vida que se posiciona contra a exploração de qualquer espécie animal pelos seres humanos, abolindo, assim, o consumo de qualquer produto de origem animal (o que inclui carne, ovos e leite, por exemplo), que tenha sido testado em animais ou que seja produzido por empresas que patrocinam festas como rodeios. Apesar de terem a convicção do risco que podem estar correndo ao efetuar tais denúncias, os estudantes não temem os organizadores de rodeios. “A gente sabe que alguém que comete abusos contra a vida de animais não-humanos pode facilmente fazer algo contra os humanos que ferirem seus interesses, já que demonstram apenas saber agir na base da ignorância. Mas mesmo assim continuamos na luta pelo fim da exploração animal, e agora ainda mais convictos de que estamos no caminho certo. Infelizmente somos a única voz desses seres que nada podem fazer para se defender”, explicou Pedro Silva.


Outros ativistas já foram censurados e agredidos por protestarem contra os rodeios

A entidade que promove a Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos, “Os Independentes”, ganhou uma liminar com pedido de tutela antecipatória contra o PEA (Projeto Esperança Animal). O site do PEA ( http://www.pea.org.br/ ) exibia imagens, vídeos e informações sobre os maus tratos existentes nos rodeios. O juiz substituto da 1ª Vara Cível da Comarca de Barretos, Maurício José Nogueira, considerou “abusivo” e prejudicial às entidades promotoras de rodeios a veiculação de tal conteúdo pelo site. O presidente de “Os Independentes”, Marcos Abud, em matéria no site oficial da entidade, declara: “Temos que inibir essas entidades e pessoas que desconhecem totalmente nossos procedimentos de bons tratos aos animais nos rodeios e transmitem informações erradas que denigrem a imagem do esporte”. Foi estipulada uma multa de 5 mil reais por dia, caso o PEA descumpra a ação. O site acatou a decisão judicial e no momento não mais exibe tais informações sobre rodeios.

A cantora Rita Lee também está sendo processada por “Os Independentes”. Segundo os promotores de rodeios, Rita Lee teria os chamado de “bandidos”, em entrevista ao Fantástico, no mês de outubro de 2006. O cantor Zezé di Camargo, há 3 anos, criticou o posicionamento de Rita Lee em relação aos rodeios, "Não advogo em causa própria. Não sei se ela sabe quantos empregos geram. É injusto que sejam ameaçados só pela mediocridade de algumas cabeças, que levantam uma bandeira demagoga, não baseada em laudo técnico, mas em opinião própria(...). A comparação é esdrúxula, mas pergunto quem sofre mais: um animal pulando por oito segundos nesses eventos, o que fica na carroça o dia inteiro sendo chicoteado ou um boi num matadouro? Ela já foi ao matadouro ver como um boi morre?". A cantora Rita Lee, em entrevista ao jornal Folha de São Paulo (26/09/2005), rebate as críticas do companheiro de profissão: “Não vou fazer da defesa dos animais nenhuma plataforma para promover minha figura como artista. Se Zezé defende os rodeios, pior pra ele. Eu odeio rodeio! Tenho vasto material comprovando os maus-tratos que acontecem nos bastidores desses eventos. Se Zezé conhece os abusos e acha normal, sinto muito pela sua ignorância espiritual. Se desconhece, está na hora de conhecer.”

Em abril de 2007 ativistas da cidade de Sumaré, interior de São Paulo, foram agredidos por homens a paisana enquanto faziam manifestação no Rodeo Sumaré Festival. O grupo, que dias antes havia pichado alguns pontos da cidade com frases de repúdio ao rodeio, pretendia fazer uma manifestação pacífica com faixas e panfletagem. Os jovens – aproximadamente 15 ativistas, alguns menores de 18 anos – dirigiram-se à área da bilheteria do evento, onde faziam um “apitaço” e conscientizavam as pessoas que por lá passavam. Incomodados com a situação, os organizadores do rodeio deram ordens aos seguranças para que advertissem o grupo, “eles pediram para que continuássemos a manifestação a uma distância de 50 metros, mas não obedecemos. Não há nenhuma lei que estipule isso”, argumenta Felipe de Araújo, o Xarope, um dos ativistas agredidos.

Duas horas depois, quando ainda estavam no local da manifestação, cerca de 15 homens desceram de uma Pick up e espancaram com socos e ponta pés os jovens. Na confusão, um dos rapazes reconheceu entre os agressores o segurança que havia os repreendido. Os homens perseguiram os jovens pelas ruas nos arredores do local onde se realizava o rodeio. Uma manifestante teve o nariz quebrado pelos “capangas”. Um dos organizadores do protesto, Felipe (Xarope), ficou indignado com a atitude dos policiais naquele momento crítico, “fomos com a menina ensangüentada pedir ajuda aos policiais. O Sargento Rosa, do 15º DP de Sumaré, negou-se a prestar socorro alegando que ela estava na manifestação. Ele de forma alguma poderia ter feito isso, mesmo porque estávamos em nosso direito de protestar”, questiona Xarope.

1º Rodeio de Santo Aleixo: os bastidores da arena da humilhação


Matéria postada no dia 05 de maio de 2007


Que os rodeios e as vaquejadas são festas populares e movimentam milhões de reais, todos nós sabemos. Mas não faz parte do senso comum a associação desses grandiosos eventos à idéia de dor e sofrimento. Mascarados por uma aura de tradição do homem do campo, e amparados por lei federal e estadual, os rodeios (englobando o chamado Rodeio Completo) e as vaquejadas são responsáveis por práticas de maus tratos a animais, violando assim a lei do meio ambiente.

Como se as diversas modalidades de rodeio já não esbanjassem violência suficiente, para proporcionar ao público um “belo” espetáculo são utilizados alguns truques com o objetivo de transformar cavalos e touros em verdadeiras feras. O sedém – uma cinta de crina e pêlo que é amarrada na virilha do animal –, sempre utilizado nessas competições, faz o animal pular. Amantes do rodeio dizem que o instrumento produz cócegas na montaria, o que a induziria a pular desesperadamente. Porém estudiosos afirmam que o sedém comprime a região abdominal, onde existem órgãos como o intestino e o pênis, causando muita dor ao animal. As esporas – objetos pontiagudos presos às botas dos peões – são utilizadas para golpear a montaria enquanto o peão encontra-se em seu dorso. Outra forma de provocar a revolta dos bois é amarrando uma corda ou faixa de couro, mais conhecida como peiteira, atrás da axila do animal. Não é rara a ocorrência de ferimentos nessa área devido à pressão exercida, o que pode arrancar alguns lindos pulos do touro infeliz. Um “cowboy” de verdade sempre tem um bom plano escondido no chapéu, por isso em alguns casos pregos e alfinetes são colocados sob a sela do animal, pimenta é esfregada em seus olhos e choques elétricos são aplicados antes de entrar na arena.

O Rodeio Completo – misto de diversas modalidades (Bull Riding, Calf Roping, Team Roping, Bulldogging, Bareback, Sadle Bronc e Cutiano) que avaliam a destreza do peão com o laço e montaria – apresenta ocorrências explícitas e até mesmo letais de maus tratos. Talvez a mais brutal das modalidades seja a “Calf Roping”, também conhecida como laço de bezerro. Essa competição consiste na perseguição de um bezerro de 40 dias que, correndo em velocidade, tem seu pescoço laçado, recebendo um puxão brusco o animal é derrubado no chão. Os bezerros utilizados nessa modalidade podem sofrer ruptura na medula espinhal (causando morte instantânea), ruptura total ou parcial da traquéia (deixando o animal paralítico) ou até mesmo ruptura de órgãos internos (proporcionando uma morte lenta ao filhote).

Nas vaquejadas o boi deve ser puxado pelo rabo e derrubado em uma área delimitada da pista. A violência da competição nem mesmo é escondida pelos órgãos que se ocupam de sua divulgação, ao esclarecer as regras seguidas um site esclarece que “o boi será julgado de pé, deitado somente caso não tenha condições de se levantar” (http://www.vaquejadas.com.br/).



Animais sentem dor sim!


O animal quando sente dor nem sempre emite barulho, o boi em especial dificilmente muge para demonstrar seu desconforto, o que faz com que muitos duvidem de sua capacidade de sentir estímulos físicos. Porém os animais são feitos dos mesmos tecidos que nós humanos, possuindo assim um organismo muito parecido com o do homem. Outro fator que deve ser levado em consideração é o “stress” causado aos touros e cavalos nesse tipo de evento. Afinal, ser solto em um ambiente iluminado, extremamente barulhento, cheio de cintos apertando e machucando o seu corpo e um marmanjo nas suas costas enfiando-lhe a espora, não deve ser uma sensação muito prazerosa (ao menos para o homem de libido controlada).

Levando em consideração que os animais não falam, um diagnóstico feito através de sinais fisiológicos (modificações no organismo) é a melhor forma de identificar a ocorrência de dor ou sofrimento nos animais. De acordo com a Dra. Irvênia Prada, professora da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, os sinais fisiológicos apresentados por bois e cavalos utilizados em rodeios permitem concluirmos que eles sentem dor e sofrimento durante a competição.

“Todos os animais, durante sua permanência na arena mostram-se em midríase ( estado de dilatação das pupilas), quando o esperado seria a ocorrência de miose (estado de constrição das pupilas, em resposta à presença de luz natural ou artificial no ambiente).(...) Quando o ser humano ou o animal se sente ameaçado, agredido, assustado, com medo ou em pânico, automaticamente (de maneira inconsciente e involuntária) seu organismo é preparado para essa situação de emergência. Acontece então taquicardia (aumento da freqüência cardíaca), aumento da pressão arterial, dilatação dos brônquios para facilitar a função respiratória, aumento do aporte sangüíneo para os músculos, pois eles é que serão solicitados para o lutar ou fugir, diminuição de sangue no território cutâneo (no ser humano é mais fácil perceber-se isto, pela palidez), transformação rápida de glicogênio em glicose (“combustível” energético para a ação dos músculos) e dilatação das pupilas (midríase).”

Não surpreende que o homem ainda feche os olhos para o sofrimento dos animais, como a própria Dra. Irvênia Prada nos lembra “os bebês humanos recém-nascidos, na maior parte dos casos prematuros - que como os animais não comunicam sua vivência de dor/sofrimento pela linguagem falada ou escrita - até meados da década de 80 não eram submetidos a anestésicos ou analgésicos, mesmo durante procedimentos cirúrgicos, pois ninguém até então havia “percebido” a possibilidade de que pudessem sentir dor e sofrer!”


E o Rodeio se defende...
Peões e empresários do ramo justificam sua posição afirmando que os rodeios e vaquejadas fazem parte da tradição do povo do campo. Mas até que ponto é positivo sustentar esse tipo de prática? Sabemos que nem toda tradição é digna de ser perpetuada, em especial aquelas fundadas em sentimentos de intolerância, ódio, violência e desrespeito. Gabriela Toledo, vice-presidente do PEA (Projeto Esperança Animal), acredita que as pessoas vão aos rodeios para assistir às apresentações de grupos de música, e não para ver o boi pular.
– Nas festas de peão é possível perceber que a montaria em bois vem perdendo espaço para outros tipos de atrações, como os próprios shows de música brasileira que, na verdade, são os verdadeiros eventos culturais, resgatam de fato nossas raízes e são realmente as grandes atrações.
O ex-peão Tony Nascimento, dono de uma companhia de rodeios e atual presidente da FRRJ (Federação de Rodeios do Rio de Janeiro), acha “o esporte bonito, porém muito violento”:
– O rodeio é um esporte em que acontece uma luta desigual, e até mesmo um pouco desumana. É a força de um animal de 700 quilos, contra a inteligência de um homem de 70. Argumenta Tony, ressaltando a posição de total desvantagem ocupada pelo peão nessa batalha.
O empresário e presidente da FRRJ, que diz não trabalhar em sua companhia com o chamado Rodeio Completo, declara achar o laço de bezerro (já citado anteriormente) “muito violento”, mas preferiu não falar sobre outras modalidades por não se achar conhecedor o suficiente, podendo assim ser injusto. Deixando claro seu amor pelos animais, Tony Nascimento acrescenta enfaticamente:
– Quem faz mal a qualquer ser vivo deve ser preso!
Segundo ele a Federação de Rodeios do Rio de Janeiro tem se empenhado na orientação dos maus profissionais. Apesar das críticas aos grupos de defensores dos animais, que, em suas palavras “desconhecem a realidade”, o empresário diz que é dever do povo intervir em algumas situações.
– Qualquer indivíduo pode proibir os rodeios, qualquer pessoa pode proibir alguém de maltratar um animal. Comenta Tony.

Brasil: até mesmo as leis transgridem as leis

A relação entre rodeio e legislação é bastante contraditória. Embora a lei do Meio Ambiente (lei nº 9.605, de 1998) proíba os maus tratos aos animais (Art. 32), os rodeios e vaquejadas são regulamentados em nosso país (lei n.º 4.495/98 de autoria do Dep. Jair Meneghelli, PT-SP). A Lei Pelé (lei nº 9.615, de 1998) elevou o peão à categoria de desportista, garantindo a ele benefícios como seguro de vida e ditando regras quanto ao contrato profissional.
Em alguns municípios as vaquejadas e os rodeios são proibidos. No Rio de Janeiro, por exemplo, a lei nº 3879/2004, de autoria do vereador Cláudio Cavalcanti, não mais permite a realização desses eventos dentro das fronteiras do município. Já no estado do Rio de Janeiro, uma lei de autoria dos deputados Ary Brum e Washington Reis (o atual prefeito de Duque de Caxias) autoriza a realização de rodeios e vaquejadas (lei nº 3021, de 1998). Há no site da Alerj um Projeto de Lei, de autoria da deputada Andréia Zito, que proibiria os rodeios e vaquejadas no estado(Projeto de Lei nº 2684/2001).
No estado do Rio de Janeiro é proibida a utilização de animais em espetáculos circenses, constatada a situação de abuso a que são submetidos sobretudo no período de treinamento. Qual a diferença entre o sofrimento vivido pelos animais de circo e os animais de rodeio?

Os magnatas dos rodeios partem para a censura e agressão física

A entidade que promove a Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos, “Os Independentes”, ganhou uma liminar com pedido de tutela antecipatória contra o PEA (Projeto Esperança Animal). O site do PEA ( http://www.pea.org.br/ ) exibia imagens, vídeos e informações sobre os maus tratos existentes nos rodeios. O juiz substituto da 1ª Vara Cível da Comarca de Barretos, Maurício José Nogueira, considerou “abusivo” e prejudicial às entidades promotoras de rodeios a veiculação de tal conteúdo pelo site. O presidente de “Os Independentes”, Marcos Abud, em matéria no site oficial da entidade, declara: “Temos que inibir essas entidades e pessoas que desconhecem totalmente nossos procedimentos de bons tratos aos animais nos rodeios e transmitem informações erradas que denigrem a imagem do esporte”. Foi estipulada uma multa de 5 mil reais por dia, caso o PEA descumpra a ação. O site acatou a decisão judicial e no momento não mais exibe tais informações sobre rodeios. A vice-presidente do PEA, Gabriela Toledo, diz que a instituição prepara um recurso e tentará derrubar a liminar.

A cantora Rita Lee também está sendo processada por “Os Independentes”. Segundo os promotores de rodeios, Rita Lee teria os chamado de “bandidos”, em entrevista ao Fantástico, no mês de outubro de 2006. O cantor Zezé di Camargo, há 2 anos, criticou o posicionamento de Rita Lee em relação aos rodeios, "Não advogo em causa própria. Não sei se ela sabe quantos empregos geram. É injusto que sejam ameaçados só pela mediocridade de algumas cabeças, que levantam uma bandeira demagoga, não baseada em laudo técnico, mas em opinião própria(...).A comparação é esdrúxula, mas pergunto quem sofre mais: um animal pulando por oito segundos nesses eventos, o que fica na carroça o dia inteiro sendo chicoteado ou um boi num matadouro? Ela já foi ao matadouro ver como um boi morre?". O sertanejo, ao fazer tal comparação, parece desconhecer (ou menosprezar a inteligência da opinião pública) que tanto o animal de rodeio, quanto o gado de corte, recebem a mesma recompensa no final de suas vidas: são degolados e sangrados até a morte, virando churrasco nas animadas reuniões dos “Amigos”. A cantora Rita Lee, em entrevista ao jornal Folha de São Paulo (26/09/2005), rebate as críticas do companheiro de profissão: “Não vou fazer da defesa dos animais nenhuma plataforma para promover minha figura como artista. Se Zezé defende os rodeios, pior pra ele. Eu odeio rodeio! Tenho vasto material comprovando os maus-tratos que acontecem nos bastidores desses eventos. Se Zezé conhece os abusos e acha normal, sinto muito pela sua ignorância espiritual. Se desconhece, está na hora de conhecer.”

Ativistas da cidade de Sumaré, interior de São Paulo, foram agredidos por homens a paisana enquanto faziam manifestação no Rodeo Sumaré Festival, no dia 22 de abril. O grupo, que dias antes havia pichado alguns pontos da cidade com frases de repúdio ao rodeio, pretendia fazer uma manifestação pacífica com faixas e panfletagem. Os jovens – aproximadamente 15 ativistas, alguns menores de 18 anos – dirigiram-se à área da bilheteria do evento, onde faziam um “apitaço” e conscientizavam as pessoas que por lá passavam. Incomodados com a situação, os organizadores do rodeio deram ordens aos seguranças para que advertissem o grupo:
– Eles pediram para que continuássemos a manifestação a uma distância de 50 metros, mas não obedecemos. Não há nenhuma lei que estipule isso. Argumenta Felipe de Araújo, o Xarope, um dos ativistas agredidos.
Duas horas depois, quando ainda estavam no local da manifestação, cerca de 15 homens com porte físico avantajado e bem vestidos, descem de uma Pick up e espancam com socos e ponta pés os jovens. Na confusão, um dos rapazes reconheceu entre os agressores o segurança que havia os repreendido. Os homens perseguiram os jovens pelas ruas nos arredores do local onde se realizava o rodeio. Uma manifestante teve o nariz quebrado pelos “capangas” e fará uma cirurgia de reparação em breve. Um dos organizadores do protesto, Felipe (Xarope), ficou indignado com a atitude dos policiais naquele momento crítico:
– Fomos com a menina ensangüentada pedir ajuda aos policiais. O Sargento Rosa, do 15º DP de Sumaré, negou-se a prestar socorro alegando que ela estava na manifestação. Ele de forma alguma poderia ter feito isso, mesmo porque estávamos em nosso direito de protestar. Questiona Xarope.
A existência de policiais fazendo “bico” no grupo de agressores, é um fato que está sendo investigado. Os manifestantes entrarão na justiça contra a organização do rodeio.

Um flagrante explícito de crueldade















No período de finalização dessa matéria, tive a oportunidade de ver de perto o que acontece em um rodeio. Seria uma ótima ocasião para tirar a limpo essa história e me sentir ainda mais convicta do que estou retratando aqui. Acompanhada de um fotógrafo (Pedro Silva) fui conferir a dinâmica do 1º Rodeio de Santo Aleixo, no município de Magé/RJ. Acreditava que seria muito difícil flagrar cenas explícitas de maus tratos, mas ao chegar àquele evento me surpreendi com tal brutalidade e tamanha hipocrisia. O acesso aos currais, para nossa “felicidade”, era irrestrito. Enquanto o locutor do rodeio dizia que seus bois eram muito bem tratados e os sedéns eram feitos de lã, fotografávamos animais com enormes feridas na região do rabo e na virilha.
Os bois são atiçados no curral antes mesmo de irem para o brete, é nesse momento que começa um ritual humilhante e abusivo (na verdade, o simples ato de estarem ali já é um abuso). Dois rapazes, vestidos a carater, espetam os animais com varas e introduzem esses objetos no ânus dos animais. Pude perceber que esse tratamento é habitual, pois foi repetido do início ao fim do rodeio. A aplicação do sedém, uma corda que é amarrada na região abdominal da montaria, é um momento crítico e “de extrema importância” para que se atinja o objetivo do rodeio. Um dos ajudantes no brete, momentos antes do animal entrar na arena, passa o sedém ao redor do boi, e, com toda sua força, puxa a corda apertando o abdômen do animal. O portão é aberto e o boi sai pulando desesperadamente, tentando se ver livre do sedém. Com o peão já ao chão, algumas vezes o animal consegue retirar a corda que o incomoda, quando isso acontece, ele para de pular e volta, como o animal manso que é, ao curral.
Quando faltavam apenas dois bois para o final do rodeio, presenciei uma cena que me deixou perplexa. Como os bois se recusavam a caminhar em direção ao brete, iniciou-se uma seqüência violenta de agressão. Primeiro ponta pés. Depois juntaram-se aos dois torturadores que lá já estavam outros dois homens. Eram senhores bem apessoados e aparentavam ser os donos da companhia de rodeio contratada para o evento (WMasters). Portando pedaços de cabo de vassoura começam a espancar os bois, são aplicados fortes golpes na cabeça e no tronco. Foram aproximadamente cinco minutos de demonstração explícita de covardia, talvez se não tivesse fotografado, poucos acreditariam no que digo agora. É impressionante como, mesmo com a nossa presença, aqueles homens reagiram de forma tão violenta. Isso nos leva a concluir que tais maus tratos são vistos com naturalidade por essas pessoas insensíveis que, pelo dinheiro, são capazes de qualquer coisa.